quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

8 dias na Grécia

Olhei a besta nos olhos e o que vi foi lindo! Vai demorar uns dias até que me sinta novamente um ser humano mas acho que valeu a pena. Cada km dos cerca de 4300 km percorridos (4353 para ser exacto) em 8 dias de viagem saiu-me da pele. Isto não foi turismo, foi uma missão de reconhecimento. A palavra é… (gritem bem alto) INTENSO! Muitas das coisas que vi não vêm em guias turísticos; sempre que possível andei por estradas secundárias o que acabou por se revelar uma opção arriscada mas ao mesmo tempo compensadora. Quase todos os dias tive de conduzir à noite e reduzir o número de horas de sono para que pudesse cumprir (mais ou menos) aquilo que tinha planeado. Obviamente, gostava de ter ficado mais tempo em cada local mas o objectivo desta viagem não era relaxar; era ver o máximo de coisas possível, detectar “áreas de interesse” para mais tarde voltar. Só para terem uma ideia das minhas “férias”, às 24:00 estava na cama e às 06:00 da manhã já estava novamente na estrada.

Por si só, conduzir na Grécia é uma aventura porque 1º – há montanhas que nunca mais acabam e as estradas são aos ziguezagues 2º – o estilo grego de condução requer algum tempo de adaptação (i.e. a principal diferença é que a faixa de emergência é utilizada como faixa de rodagem) e 3º – Conduzir ao som de músicas de Natal on loop do Georgios Kyriacos Panayiotou (rebaptizado George Michael) dá-me cabo da paciência. Para piorar, estando no Inverno, o normal foi conduzir em condições péssimas (chuva, nevoeiro, neve, frio, etc.). Custava, mas de cada vez que pensava em desistir acontecia sempre alguma coisa que me dava forças para continuar. Os vídeos e as fotos que saquei são um bom exemplo disso.

Em relação à escolha dos locais, cheguei à conclusão que em 7 dias e ½ teria sempre de cortar coisas interessantes que se tivesse tido mais tempo gostaria de ter visitado. De qualquer forma, a viagem foi suficientemente puxada a nível físico e psicológico para nem sequer me sentir culpado. Em 7 dias e ½ vi aquilo que muitos gregos me disseram ser impossível. Ελα ρε μαλακα!

Uma coisa importante que já sabia de experiências anteriores é que um local não é o mais importante para se ter “bons momentos” a viajar. Dinheiro muito menos (estes 8 dias foram baratos. Por exemplo, sítios arqueológicos e museus são de borla com um cartão de estudante da UE). Antes de mais, é preciso predisposição e uma abertura a TUDO o que se passa à nossa volta, desde o pastor “albanês” nas montanhas do Pindo que nos ofereceu iogurtes, o engarrafamento de vacas, o engarrafamento de cabras, o cão estúpido, passando pelo monge em Meteora que conhecia o Cristiano Ronaldo e acabando no gerente de hotel em Ioannina que nos deixou ficar num quarto de hotel de 4* por meia dúzia de tostões.

Uma vez percebido isto não há mal nenhum em sermos gregos na Grécia e admirarmos sem preconceitos uma topografia única e um país com uma cultura riquíssima; cultura essa que é o berço da civilização ocidental.

Não houve um sítio que me tivesse desapontado excessivamente, talvez à excepção do Nekyomanteio (o Inferno que vem na mitologia grega…). Não passa de uma fossa séptica com um cheiro a peido que não se aguenta e para isso tinha ido ao estádio do Sporting. Também não vi nenhum cão de 3 cabeças.

Aquilo que gostei mesmo foi da viagem, propriamente dita, porque mais importante do que os locais visitados foi ter chegado lá. Embora a condução na Grécia seja desafiante a paisagem natural é recompensa mais do que suficiente por esse esforço.

Aconselho todos a fazerem uma visita à Grécia, se puderem, sem ser no Verão porque as ilhas e tal são bonitas, e eu até compreendo, mas a Grécia também tem muita natureza e frio para oferecer!

Neste momento, apenas não conheço as ilhas e a Trácia (a parte que faz fronteira com a Turquia) e o único sítio que tinha programado visitar e que não cheguei a ir foi Pelion (o gancho, de onde vêm os centauros…) porque era impossível em termos de logística e faz mais sentido ir lá com calma, quando estiver melhor tempo… aliás, no Verão, planeio fazer outro tipo de turismo, mais convencional e balnear.

Estes 8 dias pareceram 8 semanas.

Pode parecer estranho mas sinto que esta viagem no Inverno vai fazer com que, subconscientemente, me sinta merecedor de ir a uma qualquer ilha à distância de um qualquer barco. É um pouco a lógica de saber sofrer para ser recompensado que, ao fim ao cabo, foi a mensagem desta viagem.

Ah, e nunca mais vou dizer mal de um Chevrolet Matiz. Juro.

5 comentários:

Simãozinho, o Bife disse...

Luzio, tenho inveja dos teus relatos. Simplemenste brutal. Grande abraço

S. disse...

O teu relato relembrou-me o quao gratificante e' viajar na Grecia - e a loucura que e' conduzir nessas estradas! Aproveita! :)

Gisela disse...

ΗΕΛΛΑΔΑ κυβερνά!!! :)

JPL disse...

SOBERBO! Este país mata-me... só espero que não seja literalmente. Καλή Χρονιά!

Deixem jogar o Mantorras disse...

João, desejo-te muita força para luta em 2008!! Continua aí com as aventuras. Um gajo curte é a viajar!!
Grande abrazo!

PS: depois quero um roteiro!!