quinta-feira, 29 de novembro de 2007

1ª SEMANA (PARTE I de II)

Na viagem de Roma para Atenas estive a conversar com um casal de gregos que estava ao meu lado no avião e, a certa altura, entreguei-lhes um mapa com o sistema de metro de Atenas. “So can you tell me which areas to avoid when looking for a house? OK, this central area here has some strange people and you should better avoid it.” Quando olhei para o mapa tinha uma circunferência que ocupava significativamente a cidade…

Só cheguei a Atenas à uma semana mas se fosse Deus colocava uma bomba de nitrogénio nesta cidade e começava tudo de novo. Fá-lo-ia não como um Deus destrutivo mas como um Deus misericordioso. Atenas tem um potencial tremendo por diversas razões como, por exemplo, o facto de ter milhares de anos de história.


Para quem vem de fora é impossível deixar de perguntar onde e quando é que estes tipo perderam o rumo?


Atenas é caótico. Fica num vale e num país com uma população de 10 milhões tem 5 milhões de habitantes, ou seja, imaginem uma Amadora 50 vezes maior e terão uma ideia bastante aproximada da densidade populacional e desorganização urbanística de Atenas. É insustentável que tantas pessoas vivam num espaço tão reduzido.



Atenas lembra-me Lisboa uns furos mais abaixo. Enquanto Lisboa cheira bem, Atenas cheira assim-assim. Há demasiadas pessoas, confusão, gritaria, obras, barulho e lixo. É raro encontrar-se um ecoponto em Atenas. Há sempre um smog tenebroso a pairar sobre a cidade e às vezes custa apenas respirar. A cidade é cinzenta por culpa de uma lei idiota que obriga os proprietários a pagar uma taxa se pintarem as casas. A verdade é que isto aqui é Europa mas é quase de raspão.

Monastiraki, Psiri, Kypseli, e Gazi são zonas centrais que me fazem lembrar o Bairro Alto, o que até pode não ser verdade, mas, é sempre bom pensar assim para criar áreas de conforto e, desta forma, suavizar o choque. Omonia, Metaxhourgio e Exharia, essas, são zonas que estão numa “liga dos últimos” mesmo dentro dos parâmetros de Atenas… só visto, mas provavelmente a pior é Metaxhourgio e, dito isto, em Omonia vêem-se drogados a injectar-se em pleno dia. Na Acrópole também, mas isso é outra história. Exharia é uma zona de anarquistas e, embora tenha bons bares e restaurantes, é preciso ter cuidado com os dias em que se pode ir lá (i.e. há uma espécie de calendário anarquista para vandalizar tudo e todos, então convém não estar lá nesses dias). Entretanto, estas zonas são totalmente residenciais! A zona chique da cidade é Kolonaki e, muito sinceramente, acho que é sobrevalorizada. Basicamente é uma zona para se ver e ser visto e paga-se por isso. Uma cerveja custa 6€! Nos “subúrbios” (em Atenas a noção de subúrbio não é bem a nossa, ou seja, há tanta ou mais gente do que no centro) temos o Pireu, a oeste, que é a zona do porto; Kifissia, a norte, que é uma zona com ruas mais largas e casas neo-clássicas fixolas; e finalmente, temos Glyfada, a sul, que é a zona das praias de Atenas.

Pessoas, pessoas e mais pessoas. Há muita imigração em Atenas de países pobres da região dos Balcãs (i.e. Albânia, FYROM, etc.) e, em menor escala, de países do Magreb, Europa-Ásia e, surpreendentemente para mim, da África Subsaariana. A principal ocupação destas pessoas é a mendicidade ou o comércio de rua. Há muita pobreza aqui, infelizmente, o que acrescenta um ar de degradação à cidade. Por outro lado, e independentemente do mau aspecto, Atenas é uma cidade estupidamente segura ou pelo menos é o que toda a gente me diz e é, também, o que sinto.

(Numa nota mais pessoal: é assustador o quanto o nosso futuro é determinado pelo local onde nascemos.)

Os gregos são uns gajos que ainda não percebi muito bem. São assustadoramente parecidos connosco nas atitudes mas tenho a sensação de que gregos e portugueses são como irmãos gémeos que foram separados à nascença. É como se os gregos tivessem sido criados por portugueses metidos em metanfetaminas: temos muitas coisas em comum mas as virtudes e defeitos típicos dos portugueses são exacerbados 10x nos gregos.

Têm um nível de vida parecido com o nosso (como nós, economicamente, o que os safa é o turismo e enquanto nós só temos o Algarve eles têm centenas de ilhas habitadas!) mas a nível de mentalidade estão, à vontade, uns 10 anos atrasados. Têm tiques de novos-ricos e isso fica-lhes mal (i.e. são ostensivos, preconceituosos e nem sempre têm bom gosto).

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