quinta-feira, 29 de novembro de 2007

CASA

Arranjar casa em Atenas foi stressante. Agora que tirei este peso de cima sinto que ganhei uma alma nova. A casa é cara, OK (700€ por mês sem contar com as despesas adicionais de água, electricidade e condomínio que poderão rondar os 100€ - no máximo) … mas é boa. Está estrategicamente colocada na rua LOUIZHS RIANCOUR (29) a 5 minutos a pé da estação de metro de Panourmou, a 8 minutos a pé de Abelokipi (onde fica o Apostolos Nikolaidis - estádio do Panathinaikos) e, desde que fecho a porta de casa, ponho-me no trabalho em 20 minutos.

É um prédio antigo mas a casa está totalmente renovada e mobilada (quando digo mobilada, só precisei levar a minha escova de dentes). A casa é de um casal grego que vive em Puerto Rico e a senhoria é a mãe de um deles. É uma velhota simpática e embora não perceba nada do que me diz parece não se importar com isso… é uma comédia! De qualquer forma, já me instalou uma máquina de lavar roupa sem encargos adicionais e já se prontificou a tratar da limpeza da casa.

Com tudo resolvido em relação à casa, estou praticamente estabelecido mas estive a ver a vida a andar para trás porque não foi fácil encontrar casa no estrangeiro para arrendar por 8 meses e pouco numa cidade onde não conhecia nada.

Em particular, os gregos são uns sacanas aproveitadores que tentam endrominar a toda a hora. Se os portugueses são chicos espertos então à que inventar uma palavra para estes sócios. Não há pachorra. Falam, falam e não dizem nada. São desconfiados e criam problemas onde eles não existem. A forma como está mobilada para arrendar é uma raridade em Atenas e juntando ao facto de que apenas demorei uma semana a encontrá-la deixa-me contente. Havia soluções mais baratas mas tendo em conta que há 2 quartos e 3 camas tenho sempre a possibilidade de subalugar a casa. Sinto-me bem na casa e isso é o mais importante.

O meu conselho, para quem está à procura de casa no estrangeiro, é que encontre alguém que fale a língua para servir de interlocutor e, se forem trabalhar, peçam a uma das secretárias ou algum colega para vos fazer os contactos. Faz TODA a diferença se vos apresentarem como alguém que vai trabalhar para uma empresa ou um estrangeiro que caiu ali de pára-quedas!

Mudei-me ontem, no dia 28/11/2007, uma quarta-feira (dia do Benfica-Milão que acabou 1-1 com aquele golaço do Maxi Pereira!). Não consegui ver o jogo em directo mas sábado vou ver o Benfica-Porto porque aqui transmitem pelo menos um jogo em directo da liga portuguesa todas as semanas.

1ª SEMANA (PARTE II de II)




A Grécia está a dar cabo de mim. Isto é contacto demais. Tive a sorte ou o azar de me começar a dar com pessoal ERASMUS através do André…

(Desde já um imenso obrigado a ele, ao Rafa e ao Diego por terem sido fixolas ao disponibilizarem o apartamento deles na primeira semana)

… e então tenho tido uma vida dupla bastante interessante. De dia ando de fatinho e à noite é festarola com ERASMUS avariados da tola. De qualquer forma este estilo de vida não vai poder durar para sempre. Emagreci uns 3 quilos nos primeiros 4 dias mas entretanto já estou a recuperá-los (i.e. ADORO pitas… de galinha, porco, gyros, souvlaki e, no geral, comida grega). Há imensos portugueses em Atenas, quer ERASMUS quer a trabalhar, e já encontrei o irmão de um amigo meu e uma rapariga que está a estagiar no Millenium BCP (Millenium Bank aqui na Grécia) que também tirou o curso na FEUNL. Sinto-me novamente em ERASMUS com a grande diferença de agora ter dinheiro mas não ter tempo.

1ª SEMANA (PARTE I de II)

Na viagem de Roma para Atenas estive a conversar com um casal de gregos que estava ao meu lado no avião e, a certa altura, entreguei-lhes um mapa com o sistema de metro de Atenas. “So can you tell me which areas to avoid when looking for a house? OK, this central area here has some strange people and you should better avoid it.” Quando olhei para o mapa tinha uma circunferência que ocupava significativamente a cidade…

Só cheguei a Atenas à uma semana mas se fosse Deus colocava uma bomba de nitrogénio nesta cidade e começava tudo de novo. Fá-lo-ia não como um Deus destrutivo mas como um Deus misericordioso. Atenas tem um potencial tremendo por diversas razões como, por exemplo, o facto de ter milhares de anos de história.


Para quem vem de fora é impossível deixar de perguntar onde e quando é que estes tipo perderam o rumo?


Atenas é caótico. Fica num vale e num país com uma população de 10 milhões tem 5 milhões de habitantes, ou seja, imaginem uma Amadora 50 vezes maior e terão uma ideia bastante aproximada da densidade populacional e desorganização urbanística de Atenas. É insustentável que tantas pessoas vivam num espaço tão reduzido.



Atenas lembra-me Lisboa uns furos mais abaixo. Enquanto Lisboa cheira bem, Atenas cheira assim-assim. Há demasiadas pessoas, confusão, gritaria, obras, barulho e lixo. É raro encontrar-se um ecoponto em Atenas. Há sempre um smog tenebroso a pairar sobre a cidade e às vezes custa apenas respirar. A cidade é cinzenta por culpa de uma lei idiota que obriga os proprietários a pagar uma taxa se pintarem as casas. A verdade é que isto aqui é Europa mas é quase de raspão.

Monastiraki, Psiri, Kypseli, e Gazi são zonas centrais que me fazem lembrar o Bairro Alto, o que até pode não ser verdade, mas, é sempre bom pensar assim para criar áreas de conforto e, desta forma, suavizar o choque. Omonia, Metaxhourgio e Exharia, essas, são zonas que estão numa “liga dos últimos” mesmo dentro dos parâmetros de Atenas… só visto, mas provavelmente a pior é Metaxhourgio e, dito isto, em Omonia vêem-se drogados a injectar-se em pleno dia. Na Acrópole também, mas isso é outra história. Exharia é uma zona de anarquistas e, embora tenha bons bares e restaurantes, é preciso ter cuidado com os dias em que se pode ir lá (i.e. há uma espécie de calendário anarquista para vandalizar tudo e todos, então convém não estar lá nesses dias). Entretanto, estas zonas são totalmente residenciais! A zona chique da cidade é Kolonaki e, muito sinceramente, acho que é sobrevalorizada. Basicamente é uma zona para se ver e ser visto e paga-se por isso. Uma cerveja custa 6€! Nos “subúrbios” (em Atenas a noção de subúrbio não é bem a nossa, ou seja, há tanta ou mais gente do que no centro) temos o Pireu, a oeste, que é a zona do porto; Kifissia, a norte, que é uma zona com ruas mais largas e casas neo-clássicas fixolas; e finalmente, temos Glyfada, a sul, que é a zona das praias de Atenas.

Pessoas, pessoas e mais pessoas. Há muita imigração em Atenas de países pobres da região dos Balcãs (i.e. Albânia, FYROM, etc.) e, em menor escala, de países do Magreb, Europa-Ásia e, surpreendentemente para mim, da África Subsaariana. A principal ocupação destas pessoas é a mendicidade ou o comércio de rua. Há muita pobreza aqui, infelizmente, o que acrescenta um ar de degradação à cidade. Por outro lado, e independentemente do mau aspecto, Atenas é uma cidade estupidamente segura ou pelo menos é o que toda a gente me diz e é, também, o que sinto.

(Numa nota mais pessoal: é assustador o quanto o nosso futuro é determinado pelo local onde nascemos.)

Os gregos são uns gajos que ainda não percebi muito bem. São assustadoramente parecidos connosco nas atitudes mas tenho a sensação de que gregos e portugueses são como irmãos gémeos que foram separados à nascença. É como se os gregos tivessem sido criados por portugueses metidos em metanfetaminas: temos muitas coisas em comum mas as virtudes e defeitos típicos dos portugueses são exacerbados 10x nos gregos.

Têm um nível de vida parecido com o nosso (como nós, economicamente, o que os safa é o turismo e enquanto nós só temos o Algarve eles têm centenas de ilhas habitadas!) mas a nível de mentalidade estão, à vontade, uns 10 anos atrasados. Têm tiques de novos-ricos e isso fica-lhes mal (i.e. são ostensivos, preconceituosos e nem sempre têm bom gosto).

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Trevo Mágico

Foram os gregos que inventaram a filosofia, o desporto, a democracia e que de uma forma consensual formaram a base daquilo a que hoje chamamos civilização ocidental. Também nos deram a pedofilia, a paneleirice em geral, um alfabeto complicado, discos da Nana Mouskouri, do Demis Roussos e disso não precisávamos, obrigado.

À primeira vista os gregos são um povo que gosta de dar, mesmo que os outros não queiram receber.

Como os portugueses, são heróis do mar, gajos de barba rija que gostam de andar à porrada mas ao mesmo tempo uns líricos que se deram ao trabalho de desenvolver uma cultura e identidade decentes. Acho que, no fundo, é mais aquilo que nos une do que nos separa e, por isso, parto com a convicção de que vou fazer da Grécia a minha segunda pátria.

O primeiro passo já foi dado ao eleger o Panathinaikos como o meu clube na Grécia; não tive dúvidas depois de ver este vídeo no YouTube:


A letra é a única coisa que sei dizer em Grego e anda a martelar-me na cabeça. Traduzido em português, é qualquer coisa assim:

“É um trevo mágico, quero prová-lo um bocadinho, para sonhar com o meu PAO e gritar até Deus ouvir: meu panatha, amo-te, estou agarrado a ti como heroína, como narcóticos, como haxixe, como lsd, por ti PAO o mundo todo está ressacado. Meu panatha, meu panatha, amo-te, amo-te, onde quer que jogues eu te seguirei, eu te seguirei, PAO aqui, PAO aqui, PAO ali, PAO ali, onde quer que jogues estaremos sempre juntos, sempre juntos.”

Um povo que vibra assim num simples jogo de basquetebol (é que nem é de futebol!) e escreve poesia em cânticos de claques só pode ser gente fixolas. E é para lá que eu vou amanhã.